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Há excesso de vinho no mundo. Há agricultores a destruir vinhas e a abandonar a indústria

Mesmo com menos produção, há excesso de vinho a nível mundial. O consumo é menor e os desafios para os produtores são cada vez maiores. Há agricultores a arrancar a vinha.

O mundo tem vinho a mais. Há hoje mais vinho, há mais opções e há preços mais acessíveis do que nos últimos 50 anos. Mas o consumo tem vindo a cair e a desfasar-se da produção.

Tony Townsend é um agricultor australiano que já destruiu metade das suas vinhas, o que corresponde a cerca de sete hectares, e, não fosse a onda de calor que se sente na cidade australiana de Riverland, já teria destruído o resto. A razão? O lucro não iria ultrapassar os custos da colheita. “Adoro trabalhar na indústria do vinho, mas não é viável o suficiente para continuar”, disse à Bloomberg. Apesar de a produção de vinho ser para si apenas um hobby, Tony Townsend sublinha que esta é a atual realidade de muitos produtores que têm na indústria a sua principal fonte de rendimento.

Na Austrália, segundo a Reuters, há mais de dois mil milhões de litros, ou cerca de dois anos de produção, armazenados desde meados de 2023. O país é hoje o quinto maior produtor de vinho.

O aumento geral de preços causado pela Covid-19 e pela guerra na Ucrânia, que trouxe preços elevados em algumas matérias-primas, como combustíveis e fertilizantes, contribuíram para desestabilizar a indústria do vinho, que ainda sentiu aumentos nos seguros e desafios com as alterações climáticas. A crise sente-se mais no vinho tinto, cujo consumo tem vindo a cair, com os consumidores a optarem tendencialmente por vinhos com menos teor alcoólico, como rosé e vinho branco.

“As marcas também não têm feito o suficiente para responderem aos desafios”, considera Spiros Malandrakis, gestor de indústria de bebidas alcoólicas na Euromonitor International, citado pela Bloomberg, reconhecendo que as pessoas estão a optar por marcas mais baratas face ao aumento dos preços, enquanto a indústria foca-se no desenvolvimento de produtos premium (mais caros). Verifica-se uma mudança de abordagem nos consumidores de vinho, com a Geração Z a consumir, no geral, menos vinho. “Se não forem barato, económico, ou uma marca notável, vão largar o vinho e optar por cocktails ou cerveja“, constatou ainda.

Na temporada de 2022-23, a Austrália produziu a menor quantidade de vinho dos últimos 15 anos. Ainda assim, enfrenta atualmente excesso de produção. Mas não é preciso ir à Austrália para se verificar esta situação. A nível mundial, segundo dados da Organização Internacional de Vinho e Vinha, em 2023 a produção mundial teve os menores valores de há 60 anos, desde 1961, e mesmo assim a oferta continua a ser maior do que a procura. O consumo global está atrás da produção desde pelo menos 1995, segundo a Bloomberg.

Espanha também tem sobreprodução de tinto na região e Rioja, segundo o diretor-geral da Federação Espanhola de Vinho, citado pela Bloomberg. Em contraste, a procura pelo branco é alta: “Os agricultores vão ter problemas daqui a um ou dois anos porque não conseguem transformar vinho tinto em vinho branco“, disse José Luis Benítez.

Em França, que ultrapassou Itália como maior produtor, o problema também se sente: para aliviar os stocks, o Governo francês alocou fundos de 200 milhões de euros para ajudar os agricultores a arrancarem vinha e enviarem o seu vinho para a produção de etanol, para seguirem para a produção de perfumes e produtos de limpeza, prometendo, a cada produtor, 75 euros por hectolitro. Depois dos protestos de janeiro, conseguiram mais 150 milhões de euros para trocarem a vinha por outras culturas.

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